sinais
"When you're fucking sad, you get mystical." - Maron
Andava obcecado por um cruzamento do meu bairro. Nele, há cinco pares de sinais de pedestre. O do lado da rua que prefiro subir só abre quando todos os outros estão abertos. Isso acontece a cada minuto e meio (eu podia jurar serem três minutos, serem cinco minutos nos dias com mais pressa, mas cronometrei – fiz o pix de um real pro sorveteiro, escorei no poste com meu picolé de graviola e cronometrei). Isso acontece a cada minuto e meio e permanece assim por 15 segundos, 15 edificantes segundos: todos os carros parados, motoqueiros impacientes roncando o motor, motoristas de ônibus fazendo malabarismos, aproveitando a pausa para dar o troco da passagem que lembrem-se chegou a custar seis reais. Por um quarto de minuto posso caminhar despreocupadamente e esqueço que a cidade é pros automóveis, que como disse o escritor Victor Heringer vivemos no pesadelo de Le Corbusier. Voltando da corrida, vi os sinais se esverdeando um a um e apertei o passo. Por último o da esquerda-de-quem-sobe, meu lado. Olhei pra ele com olhar suplicante – como se fosse encontrar ali a resposta do que me atribulava & todos os outros problemas do mundo. A luz acendeu e a pessoinha verde estava de cabeça pra baixo, como na foto que tirei aquela vez.
