Cadernos do Davi

breve necrológio, zé celso, por alguém que raro vai ao teatro

Ouve-se muito o comentário “Coitado do historiador que tiver que explicar, nas páginas dos livros didáticos, o Brasil de 2013 em diante.” E realmente haja capacidade de análise e de síntese pros olhares desatentos dos alunos do Ensino Médio. (Quem foi que falou que o destino de toda crise política é entediar os jovens das gerações seguintes?) Fosse eu esse professor, de história ou literatura, em 2033, tentando explicar o zeitgeist da nossa época, mostraria dois vídeos pros alunos: o Batman do Leblon – cujo upload original foi removido – mas encontra-se com facilidade no canal do casimiro ao menos os melhores momentos (taí outra hipótese: no futuro, assim como conhecemos certos fragmentos de Safo a partir de citações de retóricos ou alunos em idade escolar[^1], críticos futuros conhecerão trechos de vídeos populares a partir de reações1). Mostraria o Batman do Leblon exemplarmente analisado pelo Rodrigo Nunes e também o registro da reunião entre o Zé Celso e o Silvio Santos, a respeito do terreno contíguo ao Teatro Oficina, mediada pelo João Doria. Fecho ambos os vídeos com a vertigem das viagens astrais que se transformam em paralisia do sono rápido demais – é difícil de articular, mas a impressão que fica é de que tá tudo lá, toda a encrenca em que estamos metidos, os impasses e a aporia anos depois.


Muita gente capacitada escreveu sobre o Zé Celso nesses últimos dias, infelizmente por conta da circunstância trágica de seu falecimento. Aponto aqui para a publicação do Grupo Galpão, texto do Eduardo Moreira. E também pro Mariano Marovatto. Evoé!


[^1]:um óscracon, aparentemente usado como caderno de caligrafia & cédula para o voto do cancelamento original (i.e., ostracismo).

  1. Nos versos de Ana Martins Marques, em de uma a outra ilha: Escrita no papiro / que é planta / ou na cerâmica / que é terra / copiada por um colegial distraído / ou citada por um gramático / como um exemplo do uso / de advérbios negativos / a mesma palavra muda / quando muda / seu modo de chegar?

#necrológio #zé celso