Cadernos do Davi

S40, quinta-feira

Li de manhã o conto Pax domestica, de Victor Heringer. Leitura acertada na ressaca do primeiro turno de dois mil e vinte dois.

Nada de novo nasce no Natal da família. Encontram-se no MT, longe de Manoel de Barros, perto dos campos de boi e soja. Em casa a decoração branca, imitando neve, nos 36º do verão brasileiro de um clima cada vez mais quente, em parte por conta do boi e da soja. Boi e soja. O reconhecimento do parentesco insinuado, a cadeira vazia. Renovação de fachada, história acumulada no quarto trancado. A porta aberta com violência.

Em outro conto, esse disponível na revista Pesquisa Fapesp, também história familiar. Heringer trata de descendência. Do que existe enquanto possibilidade oculta na linhagem. E quer ficar escondido. Aliás mais ou menos escondido. À flor da pele ultimamente.

Em 12/06/14 Victor anota em seu diário, Vida Desinteressante: "Imagine: um país comandado por comentadores de portais de notícias." A última crônica que publicou na Revista Pessoa, em 2017, é a compilação da Pequena antologia de comentários em portais de notícias, essas caixas de gordura da web 2.0 que anteciparam a sarjeta que viria a se tornar a discussão pública nacional.

Ontem instalei novamente o Twitter, para acompanhar a apuração, e li em uma noite opiniões suficientes para o resto do ano. Incontáveis publicações por segundo, mas se você deixa o algoritmo livre, emergem apenas as falas em condição análoga aos comentaristas de portais.

Crie listas. Use bloqueador de anúncios. Front-end alternativa. Torne a desinstalar o aplicativo etc etcétera.

Releio o Rodrigo Nunes, disponível originalmente em inglês na radical philosophy. E não era agosto o mês interminável.

#literatura #victor-heringer